Tendências do vinho: os “Superchilenos”

Não há continente mais estreitamente associado ao ‘vinho’ do que a América do Sul e nenhum país se adaptou tão bem à criação de vinhos ícones como o Chile.

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Sala de barricas do ícone chileno Almaviva, lançado na safra 1996

Com seu foco histórico na Cabernet Sauvignon e blends de clara inspiração bordalesa, famílias aristocráticas chilenas proprietárias de terras e enólogos bem-viajados, com muito know-how e marketing, o Chile tem sido capaz de criar uma sequência de vinhos bem avaliados pelos críticos internacionais e consumidores de vinhos caros, tudo isso resultado de uma pequena mas consistente produção de vinhos “top”.

Eduardo Chadwick – presidente da Viña Errázuriz, acredita, em particular, nos benefícios de uma forte base em vinhos ícones. Sua empresa produz vários rótulos ícones como o blend “Don Maximiano”com predominância de Cabernet Sauvignon, um 100% Syrah chamado “La Cumbre” e um Carménère quase puro denominado “Kai”. O próprio Chadwick também começou como uma joint-venture iniciada com Robert Mondavi, em 1995, para produzir o Seña e em seguida o Viñedo Chadwick – um Cabernet Sauvignon puro do Alto Maipo lançado pela primeira vez na safra 1999.

Chadwick não só tem investido fortemente na elaboração de vinhos de alto nível, mas ele corajosamente os colocou num confronto cego contra os melhores tintos da Europa, ganhando reconhecimento para o Chile entre os críticos mais influentes do mundo. Na verdade, Chadwick diz que realizou vinte e duas degustações em todo o mundo ao longo dos últimos 10 anos, “chegando a mais de 1.400 líderes de opinião”.

Mas Chadwick não foi o primeiro a criar um “superchileno”. Esse título vai para Don Melchor da Concha y Toro, que se tornou o primeiro vinho de nível superior de inspiração bordalesa do Chile, quando foi lançado em 1989 – safra 1987. Logo em seguida, vieram Santa Rita Casa Real Don Maximiano Errázuriz, com lançamentos apenas alguns anos mais tarde (1989), usando a onipresente Cabernet Sauvignon (o Santa Rita Casa Real 1989 foi avaliado em £ 850 por um restaurante de Londres – foto abaixo).

Em seguida, surgiu em 1997 o Almaviva (safra 1996) como mais um “ícone” chileno através da joint-venture envolvendo o Baron Philippe de Rothschild e a Viña Concha y Toro.

Santa Rita Casa Real 1989

Santa–Rita_CasaReal–1989

E, atualmente, etiquetas mais caras estão surgindo.

Por exemplo, o diretor-gerente da Aresti, Matías Ovalle, tem trabalhado no isolamento de videiras velhas de Cabernet Sauvignon em Curicó, plantadas em 1951, mesmo ano da fundação da vinícola, e arremata: “vamos produzir um vinho topo de Aresti com essas vinhas” .

Da mesma forma, Montgras vai apresentar ainda no ano de 2015 um novo vinho topo de gama sob a etiqueta Intriga, já que essa vinícola está focada em vinhos à base de Cabernet Sauvignon do Maipo. De acordo com Christian Correa, enólogo do Intriga, o produtor está trabalhando com videiras de 40 a 70 anos de idade no “segundo terraço aluvial” do Maipo, cujo vinho será “um passo elevado em qualidade e preço”.

Além disso, a vinícola orgânica Emiliana engarrafará em fevereiro do próximo ano um novo “vinho ícone” usando uma mistura de variedades do Maipo: Cabernet Sauvignon, Carménère e Syrah. De acordo com a Enóloga Noelia Orts, será “o melhor vinho elaborado à partir de Emiliana”, que atualmente tem a mescla  GE como seu rótulo topo de gama.

Enquanto isso, no Vale de Colchágua, a Casa Lapostolle, que tem como winemaker Andrea León, disse que o produtor, que é famoso por seu Clos Apalta, uma mistura de Carménère, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot, está preparando “um novo vinho ícone baseado em Cabernet Sauvignon da safra 2014”. O vinho está atualmente amadurecendo em barricas da Tonnellerie Sylvain feitas exclusivamente com carvalho de árvores de 300 anos de idade.

Ali perto, a Viña Montes lançou no ano passado a primeira safra de seu Taita (no Brasil custa R$ R$ 1.673,46 na Mistral), novo carro-chefe desta vinícola. Usando 85% Cabernet Sauvignon com o resto constituído por Syrah e Carménère, apenas 3.000 garrafas da safra inaugural 2007 foram feitas para celebrar o aniversário de 25 anos de fundação da Viña Montes.

Destacando a importância de ter uma presença forte na arena dos Superchilenos com base na mistura predominante de Cabernet Sauvignon, o Grupo VSPT, está agora a produzir todos os seus rótulos ícones, como Altair e Cabo de Hornos, em uma adega selecionada (ao contrário da Errázuriz que construiu uma adega especial só para seus “ícones”).

Mas, enquanto o foco principal dos vinhos topo de gama tem sido historicamente as uvas de Bordeaux, mais produtores tentam criar vinhos “ícones” usando Pinot Noir. Por outro lado, ao Chile parece faltar ícones de genuínos vinhos brancos. A Casa Marin é amplamente reconhecida por seus Sauvignons de luxo (a Calyptra também produz um Sauvignon Blanc “oak aged” com passagem de dezoito meses em barrica de carvalho francês comparável a qualquer Bordeaux branco de alta classe de Graves), enquanto que o Sol de Sol Chardonnay da Viña Aquitania é considerado provavelmente o mais procurado no país depois do topo de gama de estilo Borgonhês Aristos “Duquesa D’A Chardonnay”, que é o branco mais caro do Chile (no Brasil custa R$ 556,01 na Mistral), mas há, sem dúvida, uma escassez de tops brancos, ou ao menos um único “ícone” de destaque. Nota do tradutor: o autor do artigo olvidou de indicar o branco ícone da Concha y Toro, Amelia Chardonnay,  consistentemente o melhor Chardonnay chileno, eis que não oscila qualitativamente a cada safra.

O enólogo da Viña Santa Rita Andrés Ilabaca oferece uma explicação: “Não havia Chardonnay ou Sauvignon Blanc no início dos anos 90 no Chile, as principais variedades foram Muscat ou Pedro Ximenez, por isso é difícil para criar um ícone se você não tem experiência de longo prazo nas variedades.”

No entanto, Chadwick está olhando para corrigir essa deficiência chilena e no final de 2015 acena com o lançamento de um Chardonnay da região Aconcágua Costa, que ele diz que irá rivalizar com um Grand Cru da Borgonha. Chadwick admite ter a intenção de produzir um “ícone branco” chileno, desde quando co-fundou Seña por volta de 1995, ao dizer que plantou videiras em 2006, numa nova área de clima frio na parte costeira do Vale do Aconcágua reconhecida oficialmente em setembro de 2012 como “Aconcágua Costa”, e que o Chardonnay será de grande qualidade, nível “Grand Cru”, bem como o Pinot Noir.

Assim, quando estes vinhos forem lançados, o Chile será capaz de lançar seus ícones não apenas de inspiração bordalesa, mas borgonhesa também.

FoResumo de: http://www.thedrinksbusiness.com/2014/09/chile-wine-trends-3-taking-on-the-top-end/

Publicado em  22 de setembro de  2014 por Patrick Schmitt

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Category: Artigo

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